O voto invisível:quando o Brasil não dá recibo da sua própria democracia
No Brasil, a gente vive cercado de papel, comprovante, recibo. Quer pagar uma conta? “Guarde o comprovante.” Faz uma compra? “Não esqueça a nota fiscal.” Qualquer coisa que envolva dinheiro, qualquer contrato, qualquer acordo, tem que ter o registro, o “livrinho” recheado de assinaturas, carimbos e assinaturas de novo. Tudo para garantir que, se der problema, a gente possa provar que fez direito.
É quase uma obsessão nacional. E não é à toa, porque aqui o jeitinho brasileiro é famoso — ou infame, dependendo do ponto de vista. Aquele jeitinho que ensina a gente desde pequeno que, se for esperto, se engana alguém, já está no caminho do sucesso. E não só isso: presidiário tem mais benefício que trabalhador? Pois é, isso a gente vê e comenta na roda.
Mas o que me deixa intrigado mesmo é como, em meio a toda essa burocracia, esse excesso de papelada, quando chega a hora de votar, nada disso existe. Zero recibo do voto. Nada. Você entra na urna eletrônica, escolhe seu candidato, e… pronto. “Voto computado.” Só um canhoto de comparecimento, que não diz absolutamente nada sobre o seu voto — só que você esteve lá.
Como assim? Num país onde todo erro é resolvido com a pergunta: “Você guardou o recibo?”, na hora de escolher quem vai governar o país, não temos como saber se o voto foi registrado do jeito que a gente fez. Parece até brincadeira.
Se fosse simples: vota, sai um comprovante do voto, coloca numa urna física, e depois, na hora de conferir, é só contar os papeizinhos. Fim do drama, fim da dúvida. Mas não é assim. Aqui, o voto some no sistema eletrônico, e a gente só tem o que foi digitado ali — sem prova, sem conferência pessoal. É uma caixa preta.
Será que isso não dá um frio na barriga em muita gente? Eu confesso que dá. E não precisa nem entrar na conversa das teorias da conspiração — basta pensar no país que somos, na desconfiança que carregamos em tantas coisas.
A Venezuela está ali, perto, com um sistema eleitoral que ninguém confia. Será que estamos tão longe disso? Talvez nunca saibamos a verdade. Talvez sejamos, como dizia Platão, pessoas na caverna, vendo sombras e achando que é realidade.
Ou talvez sejamos mesmo um “patão”, nesse jogo que é votar sem recibo.

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