A partir de agosto, a gasolina vendida no país terá 30% de etanol em sua composição, um aumento em relação aos atuais 27%. Mas há uma mudança significativa: grande parte desse etanol será produzido a partir do milho, e não da tradicional cana-de-açúcar.
A produção de etanol de milho cresceu rapidamente nos últimos anos, tornando-se um pilar da matriz de biocombustíveis. Atualmente, já existem 22 usinas dedicadas exclusivamente à produção, 12 em construção e outras 9 autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Até 2032/33, a expectativa é que a produção alcance 16 bilhões de litros anuais, representando cerca de um terço de todo o etanol brasileiro.
Benefícios econômicos e ambientais
A decisão do governo busca reduzir a dependência do petróleo, estabilizar o preço da gasolina e contribuir para a descarbonização do transporte. Segundo estimativas, a nova mistura pode reduzir em até R$ 0,20 o preço por litro nos postos, além de tornar o país autossuficiente em gasolina pela primeira vez em 15 anos.
Do ponto de vista ambiental, o etanol de milho é considerado uma alternativa limpa, pois o CO₂ liberado na combustão é compensado pelo gás absorvido durante o cultivo. Além disso, a utilização da segunda safra de milho, a chamada safrinha, reduz a necessidade de novas áreas agrícolas, evitando a pressão direta por mais desmatamento.
Riscos e desafios ambientais
Especialistas, no entanto, alertam para possíveis impactos. O aumento da demanda por milho pode gerar pressão sobre o Cerrado e outras regiões ambientalmente sensíveis. O uso intensivo de irrigação em áreas de alta vulnerabilidade hídrica também preocupa.
“Sem um planejamento territorial robusto, o risco é perder os benefícios climáticos que se pretende alcançar”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da Academia Brasileira de Ciências.
Há também impactos sociais: comunidades tradicionais podem ser afetadas pela expansão de monoculturas. Por isso, especialistas defendem a criação de áreas de exclusão e limites ambientais claros para o cultivo destinado a biocombustíveis.
Um modelo brasileiro de transição
Já para o representante do setor, Guilherme Nolasco, da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o fato de o milho ser plantado na segunda safra, em revezamento com a soja, faz com que o impacto seja mitigado, dado que não é necessário novas terras para o plantio, que acaba sendo utilizado como adubo natural para outras culturas.
“Você não terá uma mudança drástica no plantio, diferente do resto do mundo”, afirma Guilherme Nolasco. “O Brasil tem o poder de influenciar as duas grandes pautas mundiais: segurança alimentar e transição energética através do seu modelo de produção, sem necessidade de desmatar e avançar sobre novas áreas intactas”, conclui.
Fonte: Deutsche Welle
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