Ademir Pfiffer – Historiador e Youtuber, para o Jornal do Vale do Itapocu e Portal Observa+
Entre o passado rural e o presente digital: “a Festa de Rei e Rainha no Botafogo” é um testemunho vivo do que Aloísio Magalhães definiu como o caráter multifacetado do patrimônio cultural brasileiro, formado por heranças distintas que se reinventam no tempo. Em Jaraguá do Sul, essa celebração traduz o encontro de tradições trazidas pelos colonizadores germânicos com as novas linguagens sociais e tecnológicas que marcam a atualidade. Mais do que um ritual festivo, a Festa de Rei e Rainha representa a continuidade de um legado identitário, no qual memória, música, gastronomia e sociabilidade se entrelaçam, reafirmando o valor da diversidade como expressão maior da cultura nacional.
No sábado, 20 de setembro de 2025, o Botafogo Futebol Clube celebrou sua tradicional Festa de Rei e Rainha, um evento que preserva e valoriza a rica herança cultural da comunidade. A festividade ocorreu na Rua Pastor Albert Schneider, nº 137, no bairro Barra do Rio Cerro, em Jaraguá do Sul, e foi dedicada às majestades eleitas no ano anterior.

Entre o passado rural e o presente digital: A festa de rei e rainha no Botafogo. Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
Pontualmente às 15h iniciou-se o ritual do cortejo folclórico, que marcou a entrada solene do Rei Neri Heinzen, da Rainha Karin Krause e de sua corte: o 1º Cavalheiro Renato Bier, a 1ª Princesa Raquel Bier, o 2º Cavalheiro Nelson Enke e a 2ª Princesa Elia Enke. Após a entrada, uma sessão de homenagem foi conduzida por Almir Koechkoeffel e Ari Enke, presidente do clube, enaltecendo a continuidade da tradição.
A diretoria, por meio do seu quadro de associados, organizou as mesas com toalhas, conferindo requinte à ambiência e um tom festivo característico da tradição germânica. O café colonial foi preparado pela equipe de Gate Ehlert, que apresentou uma grande variedade de pratos, incluindo iguarias como cochäse, herings brot, wurst brot, além de tradicionais rocamboles, cucas, bolos e outros quitutes. Diferentemente da atualidade, no passado o café colonial contava com menos variedades, já que os recursos financeiros da maioria dos associados eram bastante limitados.
Entre o passado rural e o presente digital: A festa de rei e rainha no Botafogo. Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
Desde sua fundação, em 20 de novembro de 1949, o clube sempre uniu o esporte à prática folclórica do tiro ao alvo, tradição herdada da colonização germânica (pomerana e alemã). Em 1950, iniciou-se o costume de realizar bailes no salão da antiga Firma Weege (atual Grupo Malwee), com o objetivo de aproximar gerações. Essa vivência culminou, em 1954, na criação do Departamento de Tiro ao Alvo.
Em 1957, Alex Kienen foi coroado o primeiro rei, em um período em que a região ainda era rural e a maioria dos sócios eram agricultores, produtores de leite e arroz destinados ao laticínio e ao engenho da própria Firma Weege. Já em 1968, foi criado o Departamento Feminino, coroando Elfrida Behling como a primeira rainha.
O cortejo, em sua marcha ritualística, originalmente percorria uma estrada de chão batido. Com o crescimento do tráfego de automóveis e caminhões, a tradição foi adaptada, e em 2025 o desfile passou a ocorrer no pátio da entidade. A busca ritualística das majestades era conduzida pela senhora Edite Milnitz, professora da Escola Municipal Orestes Guimarães, no Sohnstiefe. Ao longo dos anos, outras lideranças assumiram o posto, como o próprio Almir Koechkoeffel, que substituiu Loreno Marquardt quando este se afastou para tratar de assuntos particulares. O porta-bandeira do clube, por sua vez, era Edmar Fischer.
Entre o passado rural e o presente digital: A festa de rei e rainha no Botafogo. Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
O evento de 2025 ganhou também uma dimensão digital: a celebração de Neri e Karin foi transmitida ao vivo durante 35 minutos, reunindo cerca de seis mil espectadores e recebendo 522 likes. Trata-se de um contraste significativo em relação aos reinados de Alex Kienen (1957) e Elfrida Behling (1968), que, apesar de marcantes, tiveram registros muito mais limitados. Do reinado de Alex Kienen, há uma foto histórica externa, junto ao casarão enxaimel (fachwerk) da Firma Weege, retratando a marcha de busca das majestades. Já da festa de Elfrida Behling, em 1968, não há registros fotográficos disponíveis.
Com o passar das décadas, o contexto social também mudou. Na celebração de 2025, observou-se uma diminuição significativa no número de sócios. Ainda assim, a festa manteve seu papel como ponto de encontro da comunidade, reunindo sociedades coirmãs de Jaraguá do Sul e Guaramirim. A maioria dos participantes era composta por trabalhadores de diversas empresas e aposentados.

Entre o passado rural e o presente digital: A festa de rei e rainha no Botafogo. Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
Outra diferença marcante estava no formato do evento: enquanto, nas décadas de 1950 e 1960, os bailes aconteciam à noite e se estendiam até o amanhecer, em 2025 a programação consistiu em uma tarde dançante, que encerrou às 19h. A animação ficou a cargo da Banda Horizonte Azul, de Timbó (SC), fundada em 25 de maio de 1996 como banda oficial da cidade, mas cujas origens remetem à trajetória musical de Frederico Donner, datada de 1869.
Todavia, a tradição de Rei e Rainha segue viva, conectando-se às demais festas típicas da região de Jaraguá do Sul e de Timbó, terra da banda que animou a celebração. Além disso, permanecem preservados importantes rituais folclóricos, como as competições de tiro ao alvo realizadas pelos dois departamentos do clube, a troca das faixas das novas majestades e a tradicional valsa real, que marca o início da nova realeza do Botafogo Futebol Clube.
Entre o passado rural e o presente digital: A festa de rei e rainha no Botafogo. Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
Considerações finais
A jornada do Botafogo Futebol Clube e sua Festa de Rei e Rainha é um testamento de resiliência cultural. Da base rural de agricultores que produziam para a Firma Weege à diversidade de trabalhadores e aposentados da era digital, a celebração soube se adaptar às transformações sociais sem perder sua essência.
O evento de 2025, ao unir o ritual de um passado distante com a modernidade de uma transmissão ao vivo, reafirmou a importância da tradição como um elo entre o passado e o presente. Com a troca de faixas das novas majestades e a tradicional valsa real, o Botafogo continua a preservar rituais folclóricos e competições de tiro ao alvo, garantindo que o legado de seus fundadores permaneça vivo, honrando a memória e a identidade cultural que definem a comunidade de Barra do Rio Cerro.
Fique sempre bem informado!
Participe do nosso grupo de WhatsApp e acompanhe as principais notícias do País. Acesse: www.observamais.com.br
Observação: o portal Observa+ é o portal de notícias que traz todas as notícias do impresso Jornal do Vale do Itapocu. Fique sempre bem informado!