Ademir Pfiffer – Historiador, para o Jornal do Vale do Itapocu/Portal Observa+
As confluências de rios constituem elementos fundamentais para a compreensão da ocupação humana e da formação de paisagens culturais. A história demonstra que a junção de cursos d’água favoreceu tanto o desenvolvimento de núcleos urbanos quanto a consolidação de identidades locais.
Na Europa, o encontro dos rios Meuse e Sambre, em Namur, Bélgica, foi determinante para a defesa territorial e a organização de rotas comerciais desde a Antiguidade. No Brasil, a confluência dos rios Itapocu e Jaraguá, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, representa um marco natural associado à colonização germânica, polonesa, afrodescendente, italiana e da imigração húngara do século XIX.
Nesse contexto, ganha relevo a figura de Emílio Carlos Jourdan, natural de Namur. Há 149 anos, Jourdan tornou-se concessionário das terras do Domínio da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, sendo oficialmente reconhecido como o fundador de Jaraguá do Sul. Sua trajetória conecta simbolicamente as duas confluências aqui analisadas.
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1.Aspectos geográficos
O rio Meuse nasce na França, com 950 km de comprimento, atravessa a Bélgica e os Países Baixos, desaguando no Mar do Norte. Seu afluente, o Sambre, tem cerca de 193 km de extensão, também de origem francesa, encontra o Meuse em Namur (50°27′43″N; 4°52′15″E), formando uma confluência em “Y” que delimitou a configuração urbana e militar da cidade.
No Brasil, o rio Itapocu possui aproximadamente 89 km, com nascente na Serra do Mar catarinense e foz no Oceano Atlântico, em Barra Velha. O Jaraguá, com 23 km de extensão, deságua no Itapocu no perímetro urbano de Jaraguá do Sul (26°29′58″S; 49°04′43″O), configurando uma confluência que marca a paisagem e delimita a expansão territorial do município.
2.Contexto histórico
A confluência do Meuse e Sambre foi estratégica desde os períodos céltico e romano, tornando-se posteriormente núcleo medieval fortificado. A Cidadela de Namur, erguida no promontório que domina a junção dos rios, é testemunho do valor defensivo da região.
Em contraste, a confluência dos rios Itapocu e Jaraguá não teve caráter militar, mas foi decisiva para a colonização agrícola e a exploração da madeira da Mata Atlântica. A partir de 1876, com a chegada de imigrantes e colonizadores europeus e africanos, as águas se mostraram essenciais para irrigação, transporte de equipamentos e abastecimento. Foi neste mesmo ano que Emílio Carlos Jourdan, vindo de Namur, estabeleceu-se como concessionário do território do Domínio da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, organizando a ocupação inicial da região que viria a se tornar Jaraguá do Sul.
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3.Dimensão cultural e simbólica
As confluências não apenas moldaram a geografia, mas também se tornaram símbolos de encontro.
- Em Namur, a fusão do Meuse e do Sambre simboliza a união de caminhos e culturas da Valônia, sendo hoje cartão-postal turístico e patrimonial.
- Em Jaraguá do Sul, o encontro do Itapocu e do Jaraguá evoca a fusão de tradições de imigrantes/colonizadores europeus e africanos, constituindo-se em marco identitário que ainda carece de valorização patrimonial mais ampla.
A presença de Emílio Carlos Jourdan reforça esse elo simbólico: de uma confluência europeia marcada pela defesa e comércio a uma confluência brasileira que deu origem a uma nova paisagem cultural e econômica.
4.Potencial patrimonial e turístico
Enquanto Namur explora turisticamente sua confluência por meio de passeios de barco, roteiros históricos e valorização paisagística, Jaraguá do Sul ainda não consolidou o mesmo aproveitamento. O espaço possui potencial para integrar roteiros culturais, ambientais e educativos, sobretudo no contexto do sesquicentenário da cidade (2026), em que se busca resgatar elementos formadores da identidade local e a memória do seu fundador, Emílio Carlos Jourdan.
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5.Confluência dos rios Sambre e Meuse, em Namur, Bélgica
A confluência do Rio Sambre com o Rio Meuse em Namur é um ponto histórico e paisagístico notável. Entre os principais equipamentos e construções destacam-se:
- Cidadela de Namur: antiga fortificação localizada no alto da colina, transformada em parque com vista panorâmica da cidade e dos rios.
- La Confluence: espaço cultural e de lazer situado no encontro dos rios.
- Passeios de barco: barcos turísticos, conhecidos como Namourettes, percorrem os rios oferecendo perspectivas únicas da cidade.
6.Confluência dos rios Itapocu e Jaraguá, em Jaraguá do Sul
A confluência dos rios Itapocu e Jaraguá, em Jaraguá do Sul, apresenta forte marca urbana e industrial. Entre os elementos destacados:
- Edificações industriais: A imagem do Google Earth, mostra a presença de uma grande área industrial, pertencente à empresa Duas Rodas, com vários galpões e construções à beira do rio. Fundada por Rudolph e Hildegard Hufenüssler, da cidade de Mainz, na Alemanha, a empresa instalou aqui sua fábrica de extratos e essências naturais, 1º de dezembro de 1925.
- Infraestrutura urbana: pontes e vias interligando margens e áreas da cidade.
- Áreas de mata ciliar: ainda preservadas em parte, mesmo sob pressão urbana.
- AMVALI: sede da Associação dos Municípios do Vale do Itapocu, reforçando a relevância administrativa da área.
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7.Emílio Carlos Jourdan
A figura de Emílio Carlos Jourdan, nascido em Namur, é o ponto de convergência entre as histórias analisadas. Sua trajetória simboliza a transição de um patrimônio edificado e estratégico na Europa — à sombra da confluência dos rios Meuse e Sambre — para a construção de uma nova identidade cultural e econômica no Brasil, no encontro dos rios Itapocu e Jaraguá. Jourdan, como concessionário das terras do Domínio da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, é reconhecido oficialmente como fundador de Jaraguá do Sul.
Conclusão
A análise comparativa evidencia que, em contextos distintos, as confluências fluviais de Meuse + Sambre e Itapocu + Jaraguá desempenharam funções estruturantes. Na Europa, prevaleceu o aspecto estratégico e militar; no Brasil, destacou-se o caráter econômico e colonizador.
A figura de Emílio Carlos Jourdan conecta esses dois mundos: do patrimônio europeu à colonização brasileira, do Velho ao Novo Mundo. Assim, reafirma-se que os rios não são apenas cursos naturais de água, mas linhas mestras da civilização, cultura e memória coletiva.
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