Ademir Pfiffer – Historiador, para o Jornal do Vale do Itapocu/Portal Observa+
A história de Guaramirim e de suas comunidades vizinhas é marcada por decisões visionárias que moldaram o território e garantiram sua ocupação de forma estratégica. A análise da imagem do século XIX, pertencente ao acervo da família do pastor Wilhelm Gottfried Lange, permite compreender a relevância da aliança estabelecida entre Lange e o administrador Eduardo Krisch, figuras fundamentais na definição do assentamento de Brüderthal.
Esse episódio revela não apenas o valor do planejamento no contexto da colonização, mas também oferece um paralelo com os desafios contemporâneos da gestão urbana. Assim, o texto propõe um diálogo entre passado e presente, mostrando como a visão dos pioneiros e as ações atuais convergem no compromisso com o planejamento de longo prazo e o cuidado com o território.
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O Cenário Histórico e a Aliança Visionária
A fotografia do século XIX, que pertence ao acervo da família do pastor Lange, é um registro visual com profundidade histórica. Ela foi publicada no livro Testemunho de Fé, de Saulo Adami (2003), e ganha ainda mais significado quando contextualizada pela atuação conjunta de duas figuras-chave: o pastor Wilhelm Gottfried Lange e o administrador Eduardo Krisch.
De origem germânica, com experiência missionária e pastoral em terras rurais da Ucrânia, Lange chegou a São Francisco do Sul, em 1866, com grupo de imigrantes. Já Krisch havia desembarcado no Brasil um ano antes, em 1865, como agricultor e proprietário de terras. Além de sua atuação como vereador na 6ª Legislatura Monárquica (1887-1890), em que foi o candidato mais votado, Krisch exercia a profissão prática de agrimensor, domínio que se mostrou essencial para a colonização.
A aproximação entre Lange e Krisch ocorreu em um momento de transição: a Sociedade Colonizadora de Hamburgo contratou Krisch para substituir o engenheiro Frederico Heeren na construção da estrada para Blumenau — a atual Estrada do Sul —, trecho que ele conduziu do km 25 até Jaraguá do Sul. Em seguida, elaborou as plantas projetadas da cidade de Hansa-Humboldt (atual Corupá) e assumiu o cargo de administrador responsável pela concessão dessas terras.
Durante mais de 20 anos ininterruptos como administrador, Krisch desempenhou um papel decisivo:
- traçou e construiu mais de 100 km de estrada carroçável, incluindo a via principal de Brüderthal até a divisa com São Bento do Sul (cerca de 70 km de extensão);
- realizou a demarcação de milhares de lotes coloniais;
- construiu diversas pontes e pontilhões, inclusive sobre os rios Itapocuzinho e Humboldt;
- além de exercer, de forma prática, atividades médicas, embora sem diploma, prestando auxílio fundamental à saúde dos imigrantes no ambiente inóspito da mata (SEIBEL, Nelci, 2019).
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A Escolha Estratégica de Brüderthal
Foi justamente esse conhecimento técnico e territorial que permitiu a aliança entre Krisch e Lange. A decisão de implantar Brüderthal em um local elevado e livre de enchentes partiu de uma orientação direta de Krisch. Tal escolha destoava do padrão de ocupação vigente, que priorizava áreas baixas, mas revelou-se acertada: anos mais tarde, a chamada “enchente das abóboras”, de 1911, devastou o centro de Guaramirim e o atual bairro Imigrante, confirmando o risco das áreas alagadiças.
Além disso, Krisch acompanhou Lange na abertura da Schröderstrasse (“Caminho de Schroeder”), núcleo que deu origem ao atual município de Schroeder.
O Legado da Imagem
A imagem, portanto, não é apenas um registro iconográfico: ela simboliza o valor do planejamento urbano aliado ao conhecimento do território. O contraste entre a solução visionária de dois líderes do século XIX e os complexos desafios de infraestrutura do século XXI demonstra que a negligência em relação às condições naturais pode transformar-se em um obstáculo persistente para as gerações futuras.
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A Herança do Planejamento (2025)
Passados 139 anos, a linhagem de líderes que moldaram Guaramirim encontra um novo capítulo na figura do prefeito Adriano Zimmermann. Herdeiro de uma tradição política local — filho do ex-prefeito Antônio Carlos Zimmermann e neto do ex-prefeito Lauro Zimmermann —, ele simboliza a continuidade de uma família comprometida com a gestão pública. O desafio que enfrenta, no entanto, difere profundamente daquele vivido pelos pioneiros.
Enquanto no século XIX o planejamento consistia em escolher o local adequado para a sobrevivência e expansão agrícola, hoje a meta é adequar uma cidade já consolidada aos riscos naturais e às demandas urbanas. O esforço da atual administração em implantar um sistema de canalização eficiente reflete a necessidade urgente de mitigar enchentes em uma Guaramirim que cresceu, modernizou-se, mas ainda convive com as marcas de sua ocupação histórica.
O elo que une essas duas épocas, separadas por quase um século e meio, é o compromisso com o planejamento de longo prazo. Se no passado a prioridade era prevenir desastres e garantir a fixação de comunidades rurais, no presente o foco está em construir resiliência urbana e modernizar a infraestrutura. Assim, a história de Guaramirim revela-se como a soma de esforços complementares: a visão do pioneiro que evitou os desastres futuros e a ação do gestor contemporâneo que busca superá-los, preservando a tradição de liderança e de cuidado com o território.
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Considerações Finais
A história de Guaramirim mostra que o planejamento sempre foi decisivo para o futuro da cidade. No século XIX, Lange e Krisch escolheram com sabedoria o local de Brüderthal, prevenindo desastres e assegurando a vida das primeiras famílias. Hoje, o desafio é outro: enfrentar os riscos urbanos e ambientais em uma cidade consolidada.
Ontem e hoje, porém, há um elo comum: a responsabilidade de pensar a longo prazo. A herança dos pioneiros inspira a gestão atual a buscar soluções modernas e resilientes, lembrando que desenvolvimento verdadeiro nasce da união entre memória, planejamento e cuidado coletivo.
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