Ademir Pfiffer – Historiador, para o Jornal do Vale do Itapocu e Portal Observa+
No nordeste de Santa Catarina, o município de Schroeder desvela uma tapeçaria histórica intrincada, tecida pelas mãos de colonizadores e pela singular contribuição de imigrantes letos. Sua trajetória, que se inicia sob a égide administrativa de Joinville nos séculos XIX e XX, é um testemunho da resiliência e da visão de pioneiros que desbravaram terras, estabeleceram comunidades e forjaram a identidade de uma região. Este texto propõe uma imersão nas profundezas dessa história, desde os primeiros passos da colonização germânica e italiana, passando pela notável chegada dos letos, até a conquista da autonomia política e os desafios contemporâneos que moldam seu futuro, revelando as camadas de um passado que continua a ecoar no presente.
A Trajetória Histórica de Schroeder: Da Colonização à Emancipação
O município de Schroeder, ostenta uma história intrinsecamente ligada aos processos de colonização e imigração que moldaram a região do Vale do Itapocu. Sua gênese remonta ao controle administrativo exercido por Joinville (antigo Domínio Dona Francisca) sobre vastos territórios nos séculos XIX e XX, abrangendo localidades como Jaraguá, Guaramirim e Corupá.
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Os Primórdios da Colonização e a Formação dos Assentamentos
A fundação de Schroeder é um testemunho da visão e do esforço de colonizadores pioneiros. Em 1894, Eduard Krisch, um colonizador austríaco, aceitou a proposta do pastor Wilhelm Gottfried Lange, um colonizador alemão, para demarcar uma rota que se estenderia do braço de colonização de Brüderthal até a Serra do Mar, na localidade do Salto do Bracinho. Krisch e sua equipe percorreram 32 mil metros, acompanhando majoritariamente o leito do Rio Itapocuzinho, para estabelecer o núcleo de assentamento.
Essa empreitada resultou na criação das estradas que viriam a ser conhecidas como “Schröder I” e “Schröder II”, designações que perduraram ao longo do século XX. Em 1901, colonizadores de ascendência germânica (pomeranos e alemães), provenientes de colonizações vizinhas e ligados à Igreja Evangélica de Confissão Luterana, adquiriram terras em Schroeder I. Eles se estabeleceram Mata Atlântica adentro, seguindo as margens dos rios Itapocuzinho e Braço do Sul, contribuindo para o povoamento da região.
No mesmo ano, o senador Wilhelm Köplin, outro colonizador influente, adquiriu terras na comunidade (hoje Prainha) e as doou às suas filhas, Helena Köplin (Gneipel) e Ana Köplin (Müller), consolidando a presença das famílias Gneipel e Müller na área. A infraestrutura inicial incluía, no rio Hern, uma serraria e uma tafona (moinho de milho) pertencentes a Jacob Pfleger, atendendo às necessidades da população.
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A Diversidade Cultural: Imigrantes e Colonizadores
O início do século XX foi um período de efervescência cultural e social. O pastor Ferdinando Schlüzen, em 1906 e 1907, fundou as Sociedades Escolares Schroeder II e Schroeder I, respectivamente, sob a liderança do movimento Luterano. Antes disso, Léo Schulz já atuava como professor doméstico, alfabetizando as crianças dos colonizadores na língua alemã.
É crucial destacar a distinção entre os grupos que se estabeleceram na região. Enquanto a maioria dos grupos germânicos e italianos são categorizados como colonizadores, as pesquisas do historiador Ademir Pfiffer, autor da obra, “De Schroederstrasse a Schroeder” (3 volumes), ressaltam a chegada de um grupo específico de imigrantes: os letos. No início do século XX, Schroeder I foi o palco do assentamento da imigração da Letônia, composta por indivíduos de origem germânica e praticantes da fé da Igreja Batista leta. Eles representaram o único grupo de nacionalidade leta a chegar à localidade como imigrantes.
Em 1913, novos colonizadores continuaram a adquirir terras, desenvolvendo infraestruturas como estradas e pontes, e expandindo as áreas de cultivo com a introdução de culturas de subsistência, como a cana-de-açúcar. Em 1919, colonizadores italianos, alguns nascidos na Itália e residentes em Luiz Alves, como a família Tomaselli, também se estabeleceram, contribuindo para o cultivo das terras e o funcionamento de serrarias.
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Desenvolvimento Econômico e a Luta pela Emancipação
O progresso de “Schröderstrasse” foi impulsionado por investimentos significativos, como a inauguração da Usina do Bracinho em 1931, que utilizava tecnologia alemã. A usina tornou-se uma força motriz econômica, complementada por iniciativas empreendedoras como as madeireiras Gneipel e Tomaselli, olarias (Obenaus, Gneipel, Klemann) e comércios de secos & molhados e armarinhos variados.
A aspiração por autonomia política ganhou força nos anos 50. Apesar da vigilância durante a Segunda Guerra Mundial e da Campanha de Nacionalização da Educação, o senso político da comunidade, liderado por Engelbert Jurk, culminou na transformação do território em distrito pela Lei nº 424 de 31 de julho de 1959. Em 1960, a sede da intendência foi instalada sob o comando de Helmuth Moritz Germano Hertel. Pela Lei nº. 968, de 1º de junho de 1964, era publicado no Diário Oficial, em 6 de outubro de 1964, a criação do município de Schroeder.
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A Conquista da Autonomia e a Sucessão de Lideranças
A emancipação política de Schroeder foi finalmente alcançada em 1964, com a eleição do vereador Oswaldo Steilein para o legislativo de Guaramirim. Com o apoio de figuras como o vereador e empresário Arno Zimdars, Schroeder conquistou o status de município. A instalação da sede ocorreu em 3 de outubro do mesmo ano, com a presença do governador Celso Ramos e do presidente da Alesc, Ivo Silveira. Paulo Roberto Gneipel foi nomeado o primeiro prefeito, permanecendo no cargo até 14 de novembro de 1965, quando Ludgero Tepasse, o primeiro prefeito eleito, assumiu a gestão.
Desde então, Schroeder tem sido administrada por uma sucessão de líderes eleitos democraticamente, cada um enfrentando os desafios de sua época. A tabela a seguir detalha os mandatos dos prefeitos e vice-prefeitos que guiaram o desenvolvimento do município:

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Desafios Contemporâneos e Perspectivas Futuras
Os primeiros anos de Schroeder como município foram marcados por desafios significativos, incluindo a infraestrutura rodoviária composta por estradas de chão batido, a carência de funcionários públicos qualificados e a ausência de equipamentos essenciais. A economia era predominantemente baseada no extrativismo vegetal e na agricultura de subsistência.
Atualmente, Schroeder busca reorganizar sua gestão pública, com foco em áreas vitais como Saúde, Educação, Cultura, Patrimônio, Turismo, Esporte e Lazer. A administração visa alinhar-se às políticas federais e estaduais, com ênfase na inclusão social e na excelência dos serviços. A conexão entre o passado e o presente é uma constante, honrando o legado dos colonizadores e imigrantes que construíram as bases do município, enquanto se projeta um futuro de desenvolvimento contínuo.
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Considerações Finais
A jornada de Schroeder, desde seus primórdios como um território sob a influência de Joinville até sua consolidação como município autônomo, é um eloquente exemplo da força transformadora da colonização e da imigração. A fusão de culturas, o espírito empreendedor dos colonizadores germânicos e italianos, e a singular contribuição dos imigrantes letos, que trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também sua fé e tradições, pavimentaram o caminho para o desenvolvimento socioeconômico e cultural da região.
Os desafios iniciais de infraestrutura e organização foram superados pela persistência de seus habitantes e pela visão de seus líderes, culminando na emancipação política que marcou um novo capítulo.
Ao contemplar o futuro, é imperativo refletir sobre o legado que as atuais administrações deixarão para as próximas gerações. Nesse contexto, a gestão de Jair Bridaroli (2025-2028) se insere em um momento crucial, onde a conexão entre o passado e o futuro se faz mais premente do que nunca. O legado de Bridaroli, e de qualquer líder, não se medirá apenas pelas obras físicas ou indicadores econômicos, mas pela capacidade de fomentar uma gestão pública que promova a inclusão social, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento humano integral.
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A reflexão sobre seu mandato deverá questionar: como sua administração honrará as raízes históricas de Schroeder, ao mesmo tempo em que pavimenta um caminho inovador para a saúde, educação, cultura, patrimônio e lazer? Qual será a sua contribuição para fortalecer a identidade local, valorizando a diversidade de seus colonizadores e imigrantes, e garantindo que as futuras gerações possam prosperar em um município que equilibra progresso com a preservação de sua rica herança?
O verdadeiro legado será a capacidade de inspirar um futuro onde a história seja um alicerce sólido para a inovação e o bem-estar coletivo, perpetuando os valores de resiliência e comunidade que sempre definiram Schroeder.
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