A Porta da Escola e o Fechamento da Infância
Você já parou para pensar no significado de uma porta? Sim, uma simples porta. Ela é um objeto projetado para abrir, permitir a passagem, ligar ambientes e possibilitar o movimento das pessoas. No entanto, existem três lugares em que as portas são criadas com o propósito oposto: fechar, trancar, impedir. Esses lugares são a cadeia, o manicômio — e, pasmem — a escola.
Comparar a escola com uma prisão ou um hospício pode parecer exagero, mas basta observar o cotidiano. Muitos dirão que sempre foi assim, mas basta um olhar mais atento para perceber que as coisas pioraram — e muito.
Houve um tempo em que o recreio era sinônimo de liberdade. Bastava uma tampinha de garrafa para virar futebol, um corredor com chão liso para escorregar, um pedaço de pátio para brincar de pega-pega. A escola era um espaço social, um ambiente onde, entre uma bronca e outra, as crianças ainda podiam ser… crianças.
Hoje, as portas da escola se fecham sobre uma realidade diferente. Muitas crianças vivem em apartamentos ou casas sem quintal; brincar na rua tornou-se perigo. E quando chegam à escola — o último refúgio possível da infância —, descobrem que ali também não podem fazer nada. Não podem correr, nem jogar bola fora da aula de educação física, não podem falar alto, não podem ser espontâneas. É a reclusão total do direito de ser criança.
E como esperar que um ambiente tão inóspito desperte prazer em aprender? Além disso, há outro agravante: a escola se transformou em um espaço de tensão constante. Diretora, professora, coordenadora, a tia do lanche, a faxineira, até a secretária — todos gritam, repreendem, brigam. É um ambiente saturado, onde poucos querem estar.
O resultado é visível. Surgem adolescentes desinteressados, rebeldes, apáticos. Reclamam de tudo, acham tudo um tédio. E, diante disso, as “mentes brilhantes da educação” se perguntam por que essa geração é preguiçosa e desmotivada, sem perceber que foram as próprias estruturas que a moldaram assim.
Quando se frustra uma criança, quando se impede que ela seja criança — dentro, é claro, de limites saudáveis —, o que se cria são adolescentes problemáticos e adultos desequilibrados. Ou, pior ainda, adultos infantilizados, que não viveram o tempo certo de sua infância.
Quanto aos professores, melhor nem entrar em detalhes — já foi tema de outro desabafo. Mas o quadro é nítido: escolas cheias de profissionais exaustos, administrativos arrancando os cabelos, alunos com raiva de estar ali. Como isso poderia funcionar?
Eis, talvez, uma das explicações mais sinceras — e dolorosas — para o fracasso da nossa educação. E, por consequência, da nossa nação.
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