Uma pesquisa realizada por cientistas do Conicet, da Universidade de Salta e da Fundação Mundo Sano, na Argentina, identificou uma nova mutação genética no Aedes aegypti — o principal transmissor da dengue. O estudo, publicado na revista científica Parasites & Vectors e repercutido pela National Geographic Brasil, mostra que essa alteração torna os mosquitos ainda mais resistentes a um tipo popular de inseticida, os piretróides.
A descoberta reforça o alerta de que o mosquito está evoluindo e colocando em risco a principal forma de controle usada há décadas contra a doença.

Mosquitos resistem à doses até dez vezes maiores do que o normal
A equipe argentina coletou ovos do Aedes aegypti em quatro cidades: Orán, Tartagal, Clorinda e Puerto Iguazú. Após a criação dos insetos em laboratório, os pesquisadores expuseram os mosquitos a doses letais de piretróides — inclusive em quantidades até dez vezes maiores que o habitual — e observaram que eles continuaram vivos.
“Testamos as doses, usando inclusive quantidades dez vezes maiores das normalmente aplicadas, e os mosquitos ainda se mantiveram resistentes”, explicou Laura Harburguer, PhD em Biologia e diretora do estudo.
Mutação genética pode explicar resistência crescente
A pesquisa revelou a mutação chamada V410L, até então ignorada na espécie, que está diretamente ligada à resistência aos inseticidas. Além dela, outras duas alterações genéticas já conhecidas (F1534C e V1016I) também foram encontradas. A combinação das três mutações estaria tornando os mosquitos praticamente imunes aos piretróides.
Segundo os especialistas, essa resistência é resultado direto do uso intenso e repetitivo do mesmo tipo de inseticida ao longo do tempo, criando um cenário de adaptação do mosquito.

Existe alternativa? Sim, mas ela não pode ser usada sozinha
Apesar do cenário preocupante, os testes mostraram que todas as populações de mosquitos estudadas continuam suscetíveis a um composto chamado pirimifós-metil. Ele já foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como alternativa viável para o controle do vetor.
No entanto, Laura Harburguer ressalta que confiar apenas em inseticidas, mesmo que diferentes, não é o suficiente: “Não podemos depender apenas de inseticidas. Se o controle for baseado em um único produto, logo estaremos enfrentando o mesmo problema”, alerta.
Eliminar focos de reprodução ainda é a melhor estratégia
A OMS reforça que a medida mais eficaz continua sendo a eliminação de locais propícios para a reprodução do Aedes aegypti — ou seja, todo tipo de recipiente que possa acumular água limpa.
Além disso, medidas como o uso de roupas protetoras, mosquiteiros, repelentes e o manejo correto do lixo doméstico são fundamentais para evitar surtos da doença. A dengue, zika, chikungunya e febre amarela, todas transmitidas pelo mesmo mosquito, continuam sendo um risco real — e agora, com um vetor cada vez mais difícil de combater.
Fonte: National Geographic Brasil. Editado por Cristiane Marcelino.
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