Etá país ordinário!
Hoje acordei no espírito do saudoso Nelson Rodrigues, cronista que, sem sombra de dúvidas, seria cancelado nos dias atuais. Num mundo de mentiras e sensibilidades gelatinosas, um homem “raiz” como ele seria considerado ofensivo. Mas é justamente nesse clima que me permito “Nelson Rodriguiar”.
O Brasil é um país fadado a repetir as próprias tragédias como se fossem comédias. A cada eleição, inventamos a ilusão de que “agora vai”, que a faxina moral virá pelo voto. Tolice. O subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos. E nós, brasileiros, somos os mais dedicados artesãos da nossa própria miséria.
Como diria Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.” O que o Brasil produz de idiotas é produto de exportação, e sem dúvida nenhuma, nota dez no sambódromo.
A corrupção não é invenção nossa, claro que não. Mas a impunidade, ah, essa é genuinamente brasileira — tão nacional quanto a feijoada. É o nosso maior patrimônio. O político que rouba nunca é ladrão: é esperto. E o eleitor que vota nele não é cúmplice: é vítima. Eis a mais velha comédia de costumes tropical. Enquanto na América Central reinam as republiquetas de banana, aqui consolidamos um verdadeiro continente da miséria cultural.
E o povo? Toda unanimidade é burra, já dizia o cronista, e por isso aplaudimos em coro qualquer salvador da pátria que suba a um palanque. A cada ciclo, surge um novo messias de paletó mal cortado, sempre prometendo o paraíso. O brasileiro é um feriado: gosta de descanso, de promessa e de acreditar no impossível. Basta mencionar picanha e cervejinha, ou exibir uma arminha com a mão, e já se decreta que “agora o Brasil vai”.
Dizem que somos um povo cordial. Mentira. O brasileiro cordial é uma fraude. Em cada esquina, bar ou rede social, há sempre um carrasco pronto para estraçalhar o outro com ofensas — mas sempre em nome do bem, da moral e da justiça. Nosso ódio tem sempre uma bandeira na mão: ora pelas minorias, ora por Deus, pátria e família.
O espetáculo continua, com a plateia rindo e chorando ao mesmo tempo. Somos a caricatura de nós mesmos. E se o mundo, como dizia o cronista, seria tomado pelos idiotas, no Brasil eles chegaram primeiro — e foram aplaudidos de pé.
Aqui, o corrupto é considerado esperto, a vagabunda é apenas “dada”, os bandidos são vítimas da sociedade. E aqueles que ousam pensar fora da caixa jamais têm chance de governar. Vai que fazem alguma coisa boa — e acabam com a mamata da maioria.

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