Desvendando mapas | Ademir Pfiffer – Historiador, para o Jornal do Vale do Itapocu e Portal Observa+
A cartografia, enquanto linguagem visual e ferramenta de representação espacial, transcende a mera descrição geográfica para se tornar um testemunho histórico e cultural. Este documento propõe uma análise comparativa de quatro mapas cartográficos, sendo três da cidade de Namur, na Bélgica, e um de Jaraguá do Sul, no Brasil. O objetivo é explorar como essas representações espaciais, produzidas em diferentes temporalidades e contextos sociopolíticos, comunicam distintas finalidades e intenções.
A análise será enriquecida pela contextualização histórica, destacando a importância estratégica dos rios (Meuse e Sambre em Namur; Itapocu e Jaraguá em Jaraguá do Sul) e a singular conexão entre as duas localidades através da figura de Emilio Carlos Jourdan, engenheiro nascido em Namur e figura central na fundação de Jaraguá do Sul em 1876.
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1.Namur: Entre Rios e Fortalezas – Uma Perspectiva Cartográfica Multitemporal
Namur, cidade belga localizada na confluência dos rios Meuse e Sambre, possui uma rica história militar e econômica, intrinsecamente ligada à sua geografia. A análise de seus mapas revela a evolução de sua representação e a mudança nas prioridades comunicativas ao longo dos séculos.
1.1.Mapa 1: Namur – “The City of Namur with the Castle and other Fortifications” (c. 1740-1752)
Este mapa do século XVIII, gravado por Isaac Basire para a obra histórica de Paul de Rapin de Thoyras, é um exemplar notável da cartografia militar da época. Ele retrata Namur como uma cidade fortificada estratégica, com foco na engenharia militar bastionada e na defesa em profundidade.
A representação detalhada das fortificações e da confluência dos rios Meuse e Sambre comunica a importância estratégica e defensiva da cidade em um período de intensas disputas europeias. Os elementos cartográficos demonstram a aplicação dos princípios de engenharia militar, evidenciando a relação simbiótica entre a geografia natural e a estrutura urbana fortificada. A intenção comunicativa é clara: exaltar o poderio militar e a invulnerabilidade da cidade.

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1.2.Mapa 2: Namur – Edição Alemã (c. 1900-1914)
Produzido pela editora alemã Geographische Anstalt von Wagner & Debes entre 1900 e 1914, este mapa de Namur reflete um período de transição e refinamento na cartografia europeia, anterior à Primeira Guerra Mundial. Com uma escala de 1:18.000, o mapa demonstra uma precisão científica e um elevado padrão gráfico, característicos do estilo alemão do início do século XX.
A representação da Citadela, dos rios Meuse e Sambre, e a inclusão de novos elementos de infraestrutura, como ferrovias e tramways, indicam uma mudança na intenção comunicativa. O mapa não apenas mantém a referência à importância estratégica da cidade, mas também comunica sua modernização e expansão industrial, refletindo o crescimento econômico e a urbanização acelerada do período.

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1.3.Mapa 3: Namur – Willem Blaeu (1612)
Atribuído a Willem Blaeu e publicado em 1612 como parte da obra de Lodovico Guicciardini, este é o mapa mais antigo de Namur em nossa análise. Ele enfatiza a Citadela e a malha urbana inicial, revelando a importância estratégica da cidade em um estágio anterior de seu desenvolvimento. Embora anteceda a plena expansão industrial, o mapa já sugere a conectividade territorial e a relação íntima da cidade com seus cursos d’água.
A intenção comunicativa deste mapa, em comparação com os posteriores, reside na ênfase em elementos defensivos e nas vias de transporte fluvial, fundamentais para a compreensão da cidade no início do século XVII.

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2.Jaraguá do Sul: A Cartografia da Identidade Territorial e a Herança de Jourdan (1956)
Jaraguá do Sul, localizada no Hemisfério Sul, no Brasil, apresenta uma história de colonização e desenvolvimento urbano distinta, mas com um elo surpreendente com Namur através de Emílio Carlos Jourdan. Os rios Itapocu e Jaraguá, assim como o Meuse e Sambre em Namur, desempenham um papel crucial como pontos de referência urbana e industrial.
2.1.Mapa 4: Jaraguá do Sul – 1956
Este mapa de Jaraguá do Sul, datado de 1956 e elaborado sob a gestão do prefeito Dr. Waldemar Grubba, é um documento que reflete a identidade territorial e a trajetória política do município em meados do século XX. A configuração territorial, que incluía Corupá, evidencia a consolidação do projeto de colonização iniciado por Emilio Carlos Jourdan em 1876. O mapa destaca a integração regional, os limites municipais e distritais, e a infraestrutura viária, comunicando o ordenamento territorial e o crescimento econômico pós-fundação.
A finalidade do mapa, como ferramenta de gestão pública e planejamento territorial, é evidente na sua precisão e na representação dos elementos que comunicam a evolução urbana e industrial da região, moldada pela visão de seus fundadores, incluindo Jourdan.

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Considerações Finais
A análise comparativa desses quatro mapas revela a riqueza da cartografia como fonte histórica e cultural. Enquanto os mapas de Namur demonstram a evolução de uma cidade fortificada e industrializada na Europa, o de Jaraguá do Sul ilustra o processo de colonização e desenvolvimento urbano no Brasil. A temporalidade das representações cartográficas reflete as diferentes épocas em que foram organizadas, com finalidades e intenções comunicativas distintas – desde a exaltação militar até o planejamento territorial e a modernização industrial.
A figura de Emilio Carlos Jourdan, nascido em Namur e fundamental para a fundação de Jaraguá do Sul, estabelece uma ponte histórica e cultural entre essas duas cidades, cujas paisagens foram moldadas pela presença de rios estratégicos e pela visão de seus planejadores. Esses mapas, portanto, não são apenas guias geográficos, mas narrativas visuais que contam a história de territórios e de suas interconexões globais.
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