Ademir Pfiffer – Historiador, para o Jornal do Vale do Itapocu/Portal Observa+
A história da Comunidade Evangélica Luterana do Redentor, que em 2025 comemora 90 anos de trajetória e de dedicação, é marcada pela perseverança de famílias luteranas no município, inicialmente centrada em Ribeirão das Pedras. Para celebrar este marco, um evento festivo dos 90 anos será organizado em 25 de outubro de 2025.
O Início e os Primeiros Cultos (1931)
O primeiro culto em Ribeirão das Pedras foi realizado na casa do senhor Frederico Hartmann, sob a liderança do pastor Emílio Reinheimer, que veio do estado do Rio Grande do Sul, para celebrar a organização de uma congregação em 1931. Esse movimento nasceu de uma necessidade premente: como Frederico Hartmann e outras famílias não conseguiam arcar com a taxa do Gotteskasten (Caixa de Deus Luterana), seus filhos não estavam sendo batizados. Essa situação os levou a buscar apoio pastoral e a se organizar junto ao Sínodo Luterano do Brasil, com sede na Schröderstrasse (atual Schroeder).
Um testemunho valioso é o de Rosa Zlise Gaedtke, nascida em 20 de novembro de 1926 e a única pessoa ainda viva (à época da publicação do texto) que esteve presente naquele primeiro culto.
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Formação da Congregação e Primeiros Pastores
Em 1935, o Pastor Emílio Reinheimer (1935-1937) chegou de Joinville e iniciou o trabalho. Contudo, seu ministério terminou tragicamente após ser detido em uma colônia penal em Florianópolis.
Ainda no início, a tentativa de formar uma congregação que pudesse se tornar “outra igreja” gerou descontentamento, mas a vinda de pastores como o Pastor Schuller e sua esposa (vindos de Chicago) foi fundamental para batizar adultos. O Pastor Richard E. Herz (1938-1943), nascido nos EUA, contribuiu notavelmente, e seu retorno aos EUA foi custeado por sua esposa.
A escritura de um terreno para a Comunidade, doado por Richard Edward Hesz (comprado de Germano Voight) e assinado por diversas lideranças, incluindo os Pastores Emílio Ucker, Emílio Reinheimer e Herbert Hölle, formalizou a base territorial.
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Os Anos de Luta e o Crescimento (1944 – 1976)
O pastor Edmund Neumann (1944-1955), vindo da Polônia, enfrentou grandes desafios. Sua esposa lembrava a falta de infraestrutura rural (água encanada, energia, gás, farmácia) em contraste com Chicago. Para atender às comunidades de Ribeirão das Pedras, Jaraguá, São Martinho, Rio Sete e Timbó, o pastor Neumann viajava inicialmente a cavalo, mas a comunidade o ajudou a adquirir um cavalo e, posteriormente, um Jeep.
O Pastor Walter Dreyer (1960-1965) foi o primeiro pastor a residir na casa já construída em frente ao templo (1960-1965), onde sua esposa, Sra. Helga, contribuiu costurando cortinas para a igreja.
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A Construção do Novo Templo
O crescimento da comunidade culminou na necessidade de um Novo Templo.
- Doação: O Sr. Harold Isberner doou a propriedade e também tijolos para a obra.
- Liderança: A construção foi liderada por Germano Hartmann, Carlos Kreutzfeld, Luiz Schuster e Emílio Uecker. O Sr. Emílio chefiava os trabalhos, sendo Emílio Uecker o “grande incentivador”.
- Marco: A pedra fundamental foi lançada em 1º de dezembro de 1966, contando então com 18 famílias. Curiosamente, havia o cuidado de que ninguém pisasse no cimento da fundação, pois teriam que usar sapatos.
Mudança de Nome e Grandes Obras
Em 22 de agosto de 1992, em Assembleia Geral Extraordinária, foi decidido revogar os Estatutos de 1937 (escritos em alemão) e aprovar novos, mudando o nome para Comunidade Evangélica Luterana Do Redentor.
Em 9 de outubro de 1993, foi decidida a construção do Pavilhão em pré-moldado. A obra foi realizada com o esforço, doação de mão de obra e material dos membros, sendo inaugurada em maio de 1996, quando se tornou o palco da primeira grande festa da Comunidade.
Continuidade Pastoral e Estrutura Atual (1977 – 2025)
A comunidade continuou sendo servida por uma sucessão de pastores dedicados, como o pastor Karl Hermann Gotti Auel (1977-1978), o pastor Luiz Adolfo Hegele (1978-1982), o pastor Egon Lotário Jagnow (1982-1989), o pastor Samuel Verdin (1989-1990) e o pastor Wilmar Meister (1991-1999).
A história se estendeu com o Pastor Arno (2000-2013), o pastor Reinaldo Walkinir (2013-2015), o pastor Gerson Zschornack (2016-2021) e, atualmente, o pastor André Gonçalves de Freitas (2021-).
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Estrutura Atual e Ações
A Paróquia do Redentor hoje é composta por três comunidades:
- Do Redentor (Sede em Jaraguá 99)
- Sião (Jaraguazinho)
- Redentor de Pedra de Amolar (Corupá)
A paróquia conta com um rol de 544 membros e realiza:
- Cultos semanais na sede, quinzenais em Jaraguazinho e mensais em Corupá.
- Trabalho Departamental junto a crianças, jovens, servas, leigos, ação social e evangelismo.
- Ensino Confirmatório (duas classes) e atividades evangelísticas em parceria com a Hora Luterana.
- Ações Evangelísticas Práticas realizadas pelos Confirmandos em datas comemorativas, como Páscoa e Natal.
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Desafios e Evolução da Instituição nos Tempos
O maior legado da Comunidade é a sua capacidade de evoluir sem perder a essência da fé que a fundou, enfrentando desafios em todas as épocas:
Desafio da Implantação (Anos 30-50): Superar a carência material, o isolamento e as dificuldades logísticas, conforme relatado pelos pastores Reinheimer, Herz e Neumann. O sacrifício pessoal dos pastores e das famílias foi o motor da primeira fase.
Desafio da Estruturação e Crescimento (Anos 60-70): Liderar o aumento de membros (de 18 famílias para 544 membros atuais) e concretizar as estruturas físicas (Novo Templo e Pavilhão). Pastores como Dreyer e Griep focaram na organização e no fortalecimento do corpo de membros.
Desafio da Identidade e Missão (Anos 80-90): Retomar o estudo doutrinário e a missão evangelística, confrontando os “erros dos anos 80 e 90” (pastor Jagnow). A mudança do nome refletiu a maturidade para ser luz no Brasil, não apenas uma congregação de etnia.
Desafio da Continuidade (Anos 2000 em Diante): Manter a vitalidade espiritual e o trabalho departamental robusto em três comunidades distintas. A paróquia atual utiliza recursos modernos (Hora Luterana, cultos calendarizados) para sustentar a fé.
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A celebração dos 90 anos de trajetória em 2025 não é apenas a recordação das dificuldades vencidas, como a taxa gotteskasten ou as viagens a cavalo. É o reconhecimento de uma instituição que soube extrair a força do “esforço dos membros, doação de mão de obra e material” e transformá-la em uma organização vital, pronta para continuar levando a mensagem do Redentor. A história da Comunidade Evangélica Luterana Do Redentor é, em última análise, uma poderosa demonstração de que “o trabalho no Senhor não é vão.”
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