A Arte de fazer mal feito e se orgulhar disso
No Brasil, não é preciso ser um grande sociólogo, filósofo ou pensador para perceber que vivemos na era do “pelo menos fez alguma coisa”. Essa frase, que deveria ser piada de boteco, virou política pública e filosofia de vida nacional. “O importante é que foi feito”, dizem, como se a mediocridade tivesse virado medalha de honra. O improviso é o motor da pátria. O “faz aí e vê no que dá” é a Constituição não escrita do país do jeitinho.
Paulo Freire — que muitos veneram e outros, como eu, detestam — disse uma vez: “Não existe docência sem discência.” Concorde-se ou não com o pedagogo, a frase serve como tapa com luva de giz na nossa educação e, por que não, na nossa política. Porque, convenhamos, ensinamos pouco, aprendemos menos ainda, e fingimos que está tudo bem.
Afinal, para que estudar política, história, economia ou ética se basta carisma, memes e um discurso inflamado de WhatsApp para se eleger? Hoje, ser político no Brasil é quase um reality show: quem tem o melhor bordão ganha o voto. Diploma? Não precisa. O povo, cansado, escolhe o mais “gente como a gente”, mesmo que “a gente” não saiba sequer o que está fazendo.
E na educação, a grande vitrine da incompetência nacional, gastamos 25% dos impostos — por lei — em algo que não dá retorno. Um investimento bilionário em formações que, na prática, mais parecem sessões de tortura disfarçadas de palestras. Pergunte a qualquer professor o que achou da última “formação continuada”: você ouvirá um suspiro longo, um riso nervoso e talvez um “foi bom para preencher a carga horária”.

Esses encontros são trágicos e cômicos na mesma medida. Trágicos porque os professores saem de lá mais cansados e desmotivados do que chegaram. Cômicos porque sempre há um palestrante que parece ter saído de um show de stand-up fracassado. No fim, todos voltam para casa pensando que teriam aprendido mais vendo um tutorial no YouTube.
E o pior: ninguém se indigna. Cumpre-se tabela. Marca-se presença. Bate-se palma por educação (aquela que falta). O importante é que “foi feito”. Não importa se foi mal feito, inútil, ineficaz. O lema é simples: não deu certo, mas pelo menos tentamos.

Vivemos, portanto, de paliativos: formações que não formam, políticas que não politizam e cidadãos que não se indignam. Continuamos arrastando o país com a barriga, embalados pela esperança crônica do “na próxima a gente melhora”. O problema é que essa “próxima” já dura mais de 500 anos.
E assim seguimos, orgulhosamente estacionados no pódio do atraso, aplaudindo de pé o esforço dos que “fizeram alguma coisa”, ainda que esse “algo” seja o nada mais bem disfarçado da história.

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