Somos brasileiros e temos nossas próprias demandas a enfrentar, mas é impossível ficarmos alheios às guerras em curso, como a que se desenrola entre a Rússia e Ucrânia, e especialmente em relação ao genocídio sofrido pela população civil de Gaza, perseguida implacavelmente pelo Estado de Israel. Não há como ficar indiferente às atrocidades cometidas contra os palestinos, desalojados e deslocados pelos bombardeios, são privados de água, alimentos e tudo o mais, contrariando todos os acordos internacionais. Vale destacar que na quarta-feira (28), a guerra em Gaza completou 600 dias.
A resposta ao ataque do Hamas contra comunidades ao sul do país, em 7 de outubro de 2023, quando aproximadamente 1.200 pessoas morreram e 251 foram levadas como reféns, foi a justificativa da invasão israelense, em represália aos terroristas do Hamas, e para resgatar os reféns. Porém, há muito já não se sustenta, até mesmo entre lideranças militares de Israel. Acusado de crimes de guerra, Benjamin Netanyahu não parece se importar com as críticas crescentes ao seu governo. A cena dessa semana das centenas de famintos correndo para pegar os poucos mantimentos de ajuda humanitária finalmente liberados para a população, após dois meses de espera, é de estarrecer.
O número de mortos cresce a cada dia e com certeza as estimativas não correspondem à trágica realidade, se considerarmos as vítimas desaparecidas nos escombros dos prédios em ruínas. Mas o que mais tem causado indignação pelo mundo, inclusive entre os aliados europeus, é o massacre proposital de bebês e crianças, que estão entre os alvos preferidos: as que não morrem atingidas por bombas, perdem a vida por fome, sede, ou falta de atendimento médico, já que há poucos hospitais ainda em funcionamento, reduzido número profissionais e medicamentos insuficientes para a alta demanda.

Crianças olham para suas casas destruídas na cidade de Rafah, na Faixa de Gaza. Foto: UNICEF/Eyad El Baba
O desabafo do embaixador
A situação é tão estarrecedora que o embaixador da Palestina na ONU (Organização das Nações Unidas), Riyad Mansour, bateu na mesa e chorou durante discurso no Conselho de Segurança Afirmou que “mais de 1.300 crianças palestinas foram assassinadas e cerca de 4 mil ficaram feridas desde que Israel retomou a ofensiva militar em Gaza, e que dezenas estão morrendo de fome”. Enquanto falava, era assistido, bocejando, pelo representante israelense. Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) acusa o exército israelense de matar, ou ferir, mais de 50 mil crianças palestinas na Faixa de Gaza, desde outubro de 2023.

Em Rafah, crianças caminham. O sofrimento está estampado nos rostos. Foto: UNICEF/Eyad El Baba
Concordo com as palavras de Riyad, de que o que estamos vendo “é um horror que a mente não compreende, que o coração não suporta”. O embaixador palestino lembrou a tragédia vivida pela médica Alaa al-Najjar, que viu nove dos dez filhos, com idades entre sete meses e 12 anos, chegarem mortos e queimados ao hospital onde trabalhava.
Vale destacar a recente e polêmica declaração de uma parlamentar israelense. Para ela e para ala mais radical pró-guerra, todos em Gaza devem morrer, e isso inclui gestantes, bebês e crianças. Será que apenas as crianças israelenses têm direito à vida e a serem tratadas com dignidade?
E agora?!
Agora a pergunta que não quer calar é: O que o mundo (e isso inclui o Brasil, evidentemente!) vai fazer de concreto para acabar de vez com essa guerra? Será que deixarão de fornecer armas e responderão com embargos? Ou seguirão com falácias sem nenhuma iniciativa eficaz para impedir que esses horrores continuem e os sobreviventes palestinos sejam expulsos do território, para atender a intenção expansionista do governo Netanyahu?

Sônia Pillon é jornalista, escritora, palestrante e colunista. Tem formação em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduação em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB-SC). Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.